O problema social do motoboys
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O problema social do motoboys

Texto: Marcos Morita*

Foto: InformaMídia Comunicação

A confusão provocada pela proibição aos fretados na cidade de São Paulo e o aumento nos casos da nova gripe pelo país tomaram boa parte dos noticiários na semana passada. A exposição desses assuntos acabou encobrindo uma lei sancionada pelo presidente Lula no último dia 30, regulamentando as profissões de motoboy e moto-táxi. A partir de agora, caberá aos estados e municípios autorizarem e regulamentarem estas modalidades através de leis, departamentos ou conselhos de trânsito.

Apesar da melhoria que a regulamentação pode trazer, o sentimento negativo que paira sobre esta categoria não tende a mudar apenas por causa de uma nova lei. A regulamentação trará novas exigências e certamente aumentará a fiscalização. Entretanto, a medida parece pequena demais perto do exponencial crescimento de motos e de entregas em tempo recorde nas grandes cidades.

Como motorista, vivo praguejando contra os motoboys que frequentemente levam meu espelho retrovisor em suas aceleradas frenéticas. Só este ano já foram três. Também reclamo quando quero mudar de faixa e eles ficam com suas buzinas histéricas avisando que estão ali.

Contraditoriamente, depois desse verdadeiro entrave no caminho de casa ao escritório, peço que a secretária chame um motoboy para que entregue um documento a um cliente do outro lado da cidade o mais rápido possível. Reforço também que meu almoço deve estar lá ao meio-dia em ponto para que não atrase os compromissos da tarde.

O escritor e futurista Alvin Tofler já previa que as três grandes ondas que influenciariam a sociedade seria a revolução agrícola, a industrial e a da informação. Ouso dizer que já estamos vivendo a quarta onda, a da velocidade. Queremos tudo de maneira expressa, na hora, de preferência para ontem. Ferramentas como o Twitter, o torpedo e também os motoboys não me deixam mentir.

Podemos aprender com um exemplo de Bombaim, onde um grupo de 5 mil homens transporta diariamente 200 mil marmitas das casas dos clientes aos escritórios e vice-versa, com precisão impressionante. Eles utilizam carrinhos de mão, bicicletas e trens, numa intrincada operação logística. Tudo isso sem confusão. O sucesso é tão grande que já foi matéria da revista The Economist e estudo de caso da Universidade de Harvard.

Talvez não tenhamos a mesma paciência dos indianos, nem desejemos que nossos motoboys se transformem em estudo de caso de universidades americanas. Contudo, com um pouco mais de planejamento empresarial, logística e atitudes positivas estaremos contribuindo significativamente para a paz no trânsito das grandes cidades. Consolidar entregas, estabelecer horários de saída e recebimento de documentos é a única maneira de reduzir a velocidade e a insanidade do trânsito.

Outro ponto importante é reconhecer que, antes de um motoboy, existe um ser humano por trás do capacete. As nossas entregas diárias não são feitas por robôs, mas sim por aqueles que ofendemos enquanto estamos ao volante.

É no mínimo contraditório reclamar sobre a velocidade e o modo inconsequente como eles pilotam se somos nós mesmos que exigimos que eles voem para atender nossas necessidades. Ora, como podemos então reclamar do quanto eles se arriscam e levam nossos retrovisores se somos nós os causadores de tanta pressa?

A velocidade dos motoboys está intimamente ligada ao nosso ritmo diário. Se nos acostumássemos a esperar um pouco mais e a planejar as coisas com mais antecedência certamente não viveríamos essa loucura que tira pelo menos uma vida desse tipo de profissional diariamente só na cidade de São Paulo.

Se quisermos um trânsito menos violento temos que começar por nós mesmos. É hipocrisia reclamar sem agir. As empresas precisam começar a trabalhar sua logística de modo mais racional e antecipado. Só assim conseguiremos poupar nossos retrovisores e o mais importante, a vida dos motoboys.

* Marcos Morita é mestre em administração de empresas e professor das disciplinas de planejamento estratégico e gestão de serviços na Universidade Presbiteriana Mackenzie. É executivo há 15 anos em multinacionais, com experiência em canais indiretos de vendas, lançamento de produtos, criação de novos negócios e programas de fidelidade. Contato: professor@marcosmorita.com.br

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