Letícia Ribeiro*
Nas últimas décadas, o número de idosos vem crescendo exponencialmente. Segundo dados do IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, estima-se que em 2025 serão cerca de 33 milhões de pessoas acima de 60 anos no Brasil. Os grandes responsáveis pelo aumento da expectativa de vida, dizem os especialistas, são o desenvolvimento econômico no país e os avanços na indústria farmacêutica, que estão proporcionando, não apenas uma vida mais longa, mas também mais saudável. Ao contrário do que se previa, ao invés de uma velhice resumida à quietude do lar, os idosos de hoje são bem mais ativos e independentes, cheios de planos e energia.
Após a aposentadoria, já livre das obrigações de trabalho e com os filhos crescidos, muitos idosos têm aproveitado o tempo livre para investir em planos que ficaram para trás, perdidos na correria do dia a dia e, entre estes planos, está o sonho de dirigir.
Dirigir é um sonho para boa parte da população que sofre diariamente com as deficiências do transporte público das grandes cidades, sobretudo na capital Paulista. A liberdade, a mobilidade e o conforto de dirigir seu próprio veículo já é mais do que um desejo, é uma necessidade em grande parte dos casos. A atual estabilidade econômica no Brasil já permite que muitas famílias disponham de veículos próprios, aproximando essa possibilidade de muitas pessoas.
Entretanto, o que se observa é que a ideia de dirigir ainda parece uma realidade distante para muitos idosos. Muitos destes, especialmente as senhoras, já possuem habilitação há alguns anos, porém, por motivos pessoais, nunca dirigiram e agora se sentem inseguras para voltar a conduzir veículos na idade avançada em que se encontram. A maioria pensa que já passou da idade, que “dirigir é para pessoas jovens”. Ficam apreensivos quanto ao seu desempenho ao volante, pois temem não ter mais a agilidade física para realizar manobras e nem mesmo a capacidade de tomar decisões rápidas no trânsito. Muitos se queixam de não serem mais capazes de aprender, pois já não tem mais tanta capacidade de atenção e memória. Essa visão sobre sua incapacidade gera medo e vai afastando os idosos de investir no sonho de dirigir.
O receio quanto à perda de agilidade motora e cognitiva na velhice procede. Com o passar dos anos nosso corpo vai perdendo massa muscular e nossos movimentos vão ficando mais lentos e imprecisos progressivamente. Nossa capacidade de atenção e memorização também vai diminuindo, é comum ficar “esquecido” conforme o aumento da idade. Entretanto, esse processo faz parte das mudanças naturais do nosso corpo nessa fase da vida e deve ser encarado com naturalidade. Em um processo de envelhecimento normal, apesar dos déficits, o idoso não se torna incapaz. Nosso organismo é capaz de aprender em todos os momentos da vida e pode, com alguns ajustes, ser bastante funcional na velhice também.
Perder o medo de dirigir na terceira idade é perfeitamente possível, entretanto, exatamente por ser um público que precisa de cuidado e atenção devido às limitações naturais, dirigir nessa fase da vida não pode ser resumido à apenas saber como conduzir o veículo. É preciso um trabalho que vise certa reabilitação dessas funções motoras e cognitivas a fim de que eles possam desenvolver essas habilidades com segurança e independência.
Atualmente, existem centros de treinamento para habilitados. A Dirigindo Bem – Empresa Especializada no Trânsito, presta serviços na área de psicologia que são fundamentais nesse processo. O psicólogo realiza junto ao idoso um trabalho de reabilitação física e mental através de alguns exercícios durante o processo de aulas práticas. Um exemplo disso é o trabalho realizado para auxiliar uma queixa frequente de idosos ao aprender a dirigir: as dificuldades de coordenação motora, que levam a erros no controle dos pedais. Esse problema é comum e pode ser sanado com um simples treino focado no controle dos pés, explorando a sensibilidade, força e memorização da sequência dos pedais para controlar o veículo. Assim, o idoso vai, ao seu tempo, “ensinando” seu corpo a realizar o movimento, sentindo-se mais capaz e seguro de poder controlar o carro e a si mesmo. O trabalho é realizado em grupo, e além de desenvolver a habilidade com os pés, o cliente pode compartilhar as dificuldades emocionais com outras pessoas que também se sentem inseguras ao volante.
É importante que o idoso compreenda o momento em que se encontra, quais são suas limitações e como pode lidar com elas em relação a dirigir. Sentindo-se mais no controle de si mesmo, o controle do carro será uma questão de tempo e prática, tornando-o apto para, aos poucos, no seu ritmo, vencer o medo de dirigir.
*Letícia Ribeiro – Psicóloga, Mestre em Psicologia (UFRGS), Especialista em Terapia Cognitivo- Comportamental (INFAPA), Especializada em Neuropsicologia pelo INESP, faz parte da equipe de Psicólogas da Dirigindo Bem – Empresa Especializada no Trânsito, com 42 unidades em território nacional.