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Coluna “Mecânica Online”: Os desafios do Brasil no caminho da descarbonização automotiva

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Estudo liderado pela ANFAVEA procura identificar os cenários para as próximas gerações de veículos


Tarcisio Dias*

O Brasil está entre os 10 maiores mercados automotivos no mundo, com dados de 2019, que revelam a 8ª posição entre as vendas de veículos leves e a 4ª posição nos veículos pesados, atrás apenas da China, Estados Unidos e Índia.

A nossa frota circulante de veículos leves é próxima dos 45 milhões de unidades, enquanto temos 2 milhões de veículos pesados, com dados de 2020.


E a contribuição da indústria e da cadeia automotiva para a economia brasileira é muito significativa. O faturamento anual direto em 2019 ultrapassou os US$ 80 bilhões entre fabricantes automotivos e autopeças.

São mais 40 fábricas instaladas em 10 estados e 44 cidades que empregam 1.8 bilhão de pessoas qualificadas, juntamente com a indústria de combustíveis. Apenas em 2019 o consumo de combustível da frota circulante foi de 118 bilhões de litros de combustíveis – considerando biodiesel (5%), etanol (19%), gasolina C (32%) e diesel (44%).

Em um contexto de descarbonização, diversas rotas tecnológicas competem por espaço a médio-longo prazo, vejamos:

Combustíveis fósseis

Gasolina – Combustível mais comum para leves no Brasil;

Diesel – Combustível mais comum para pesados no Brasil;

Gás Natural Comprimido – Solução de gás natural mais antiga; menor densidade;

Gás Natural Liquefeito – Solução mais recente com maior densidade de energia.

Biocombustíveis

Bioetanol – Misturado à gasolina ou consumido individualmente;

Biodiesel – Misturado ao diesel brasileiro; não substitui diesel;

Diesel Renovável / Verde (HVO) – Pode ser utilizado sem restrições em motores atuais;

Biogás / Biometano – Combustível produzido pela decomposição biológica.

letrificados (xEV)

MHEV (Mild hybrid, 48V) – Motor elétrico de baixa voltagem com potência limitada;

HEV (Hybrid) – Média potência, com suporte a baixas velocidades;

PHEV (Plug in hybrid) – Alta potência, permitindo altas velocidade. Utiliza carregador;

BEV (Pure battery) – Solução puramente elétrica; carregador externo.

Célula a combustível

Célula de combustível – Hidrogênio utilizado para gerar energia elétrica;

Célula de combustível com etanol – Etanol transformado em hidrogênio para alimentar bateria.

Entre os desafios para traçar o cenário futuro da frota brasileira, o estudo da ANFAVEA considera as diversas forças que influenciam a evolução das rotas tecnológicas:

• Regulação e incentivos: posicionamento e estímulos governamentais;

• Investidores e clientes: foco de investidores e clientes em ESG (dados ambientais, sociais e de governança das empresas);

• Indústria e tecnologia: viabilidade tecnológica e desenvolvimento da indústria;

• Infraestrutura: disponibilidade de infraestrutura de produção e distribuição;

• TCO: Custo Total de Propriedade do veículo.

As referências externas apontam a necessidade de foco em objetivo específico e estímulos para desenvolvimento de novas rotas: Europa, Estados Unidos e China apontam para a eletrificação, enquanto a Índia busca a eletrificação nas motocicletas juntamente com gás/biocombustíveis para os automóveis. O poder público brasileiro deve estabelecer políticas para acelerar os cenários de descarbonização.

Os desafios do Brasil no caminho da descarbonização automotiva apresenta três cenários para o futuro da motorização veicular, considerando a realidade brasileira, incluindo os resultados de um estudo inédito feito pelo Boston Consulting Group (BCG).

“A ANFAVEA lidera esse debate fundamental e inadiável, pois a indústria automotiva precisa saber como direcionar seus investimentos para as próximas gerações de veículos e para inserir o Brasil nas estratégias globais de motorização com foco total na descarbonização”, afirma o presidente da ANFAVEA, Luiz Carlos Moraes.

O detalhado estudo organizado pela ANFAVEA e pelo BCG, com a ajuda de vários players do setor automotivo, apontou três grandes cenários possíveis para o país nos próximos 15 anos.

O primeiro seria o “Inercial”, no qual a transformação viria no ritmo atual, sem metas estabelecidas, sem uma organização geral dos setores envolvidos no transporte e na geração de energia, e sem uma política de Estado que incentive a eletrificação.

O segundo, batizado de “Convergência Global”, seria o mais acelerado no sentido de acompanhar os movimentos já em curso nos países mais desenvolvidos.

O terceiro é o “Protagonismo de Biocombustíveis”, um caminho que privilegiaria combustíveis “verdes”, mas com um grau de eletrificação semelhante ao do cenário “Inercial”.

Se hoje os modelos eletrificados respondem por 2% do mix de vendas de leves, em 2030 eles representarão de 12% a 22%, dependendo dos cenários previstos no estudo, e de 32% a 62% em 2035.

Os pesados também terão sua parcela de eletrificação, embora um pouco menor (10% a 26% do mix em 2030, 14% a 32% em 2035).

Ou seja, mesmo no cenário mais conservador, o mercado brasileiro vai demandar milhões de unidades de veículos eletrificados até a metade da próxima década. Seriam 432 mil veículos leves/ano em 2030, subindo para 1,3 milhão/ano em 2035.

Mesmo no cenário inercial, serão necessários altíssimos investimentos em toda a cadeia (pesquisa e desenvolvimento, adaptação de fábricas, desenvolvimento de fornecedores, preparação/treinamento da rede de concessionários etc.) para que o Brasil abasteça seu mercado local e se consolide como um polo exportador dessas tecnologias para os países vizinhos, e até de outros continentes.

Esse movimento abre uma janela de oportunidades para outros investimentos no Brasil, como semicondutores e baterias, já que nosso país possui matéria-prima abundante para essas novas tecnologias.

Mesmo no cenário de convergência global, com quase 2,5 milhões veículos eletrificados vendidos em 2035, a renovação natural da frota será muito lenta, assim como a contribuição para a redução de emissões de CO2, que será bastante limitada.

A única saída é implantar políticas eficientes que promovam a rápida retirada da frota velha das ruas. Políticas de Inspeção Veicular e de Renovação da Frota, previstas em lei desde a criação do Proconve em 1986, até hoje não saíram do papel.

A frota circulante de leves ainda terá quase 80% de motores flex (gasolina/etanol), enquanto praticamente 90% dos caminhões e ônibus nas ruas continuarão consumindo diesel.

Ficou comprovada pelo estudo, no cenário de Convergência Global, a necessidade de instalação de ao menos 150 mil carregadores para atender os veículos eletrificados, o que implica num investimento da aproximadamente R$ 14 bilhões.

Além disso, é imprescindível um pesado investimento em geração/distribuição de energia de fontes limpas para suprir a frota de elétricos, que criará uma demanda adicional de 7.252 Gwh (1,5% de tudo o que é gerado atualmente).

Considerando todos os aspectos destacados no estudo ANFAVEA-BCG, podemos inferir que o Brasil, com uma política industrial de Estado adequada e bem planejada, poderá promover um novo ciclo de investimentos nos próximos 15 anos superior a R$ 150 bilhões.

“Outros países já definiram suas metas de descarbonização, bem como os caminhos para se chegar a elas. O Brasil, em seu papel de um dos principais mercados para o setor de transporte no mundo, não pode mais perder tempo”, acredita Luiz Carlos Moraes.

*Tarcisio Dias é profissional e técnico em Mecânica, além de Engenheiro Mecânico com habilitação em Mecatrônica e Radialista, desenvolve o site Mecânica Online® (mecanicaonline.com.br) que apresenta o único centro de treinamento online sobre mecânica na internet (cursosmecanicaonline.com.br), uma oportunidade para entender como as novas tecnologias são úteis para os automóveis cada vez mais eficientes.

Coluna Mecânica Online® – Aborda aspectos de manutenção, tecnologias e inovações mecânicas nos transportes em geral. Menção honrosa na categoria internet do 7º e 13º Prêmio SAE Brasil de Jornalismo, promovido pela Sociedade de Engenheiros da Mobilidade. Distribuição gratuita todos os dias 10, 20 e 30 do mês.

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