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A velocidade está de volta

O pódio da prova brasileira da IndyCar Series com Hunter-Reay, Power e Meira
F1 e Indy iniciaram suas temporadas de forma bem diferente

Texto: Edmur Hashitani
Foto: Bruno Terena / ReUnion Press

A Fórmula 1 e a Indy começaram, no último domingo, suas temporadas 2010, de forma bem diferente uma da outra, começando pelo local. Enquanto a categoria máxima do automobilismo mundial, cheia de novas regras, equipes e pilotos, desembarcou no Barein o campeonato norte-americano chegava pela primeira vez no Brasil, para correr em uma pista montada nas ruas de São Paulo.

No deserto, as equipes de ponta passaram o final de semana se adequando a mudanças como extinção do reabastecimento e, por consequência, carros mais pesados, pneus mais estreitos e o novo traçado da pista. Outras equipes, estreantes, lutavam apenas para conseguir ir à pista e se manter por lá. Para a Virgin e, principalmente para a Hispania, foi bastante difícil.
Chegou-se ao ponto de o piloto indiano Karun Chandhok, companheiro de Bruno Senna no time espanhol, estrear seu bólido apenas durante o treino de classificação, sem nunca ter andado de F1 na vida. Nem em testes privados, nem nos treinos livres.
Enquanto as estreantes penavam no pelotão de trás, na frente havia um relativo equilíbrio entre Ferrari, Red Bull, McLaren e Mercedes, que culminou com a pole-position de Vettel, seguido por Massa e Alonso.
Mas foi na corrida que as mudanças de regras e adição de equipes mostraram sua verdadeira eficiência. Ou seja, nenhuma. Diziam os dirigentes, durante a pré-temporada, que as medidas foram tomadas para aumentar a competitividade e ultrapassagens durante as provas. Mas o que se viu, na verdade, foi uma verdadeira procissão de 49 voltas.
Vettel largou na frente, Alonso passou Massa na largada, e a corrida seguiu assim por boa parte. Só mudou, porque o alemão da Red Bull teve problemas em seu carro e acabou superado pelas duas Ferraris epor Hamilton.
A extinção do reabastecimento, que prometia gerar ultrapassagens, não surtiu efeito nenhum. Agora os pilotos passam boa parte da prova poupando pneus, ao invés de serem mais agressivos. Agora, depois do fracasso, chega-se a cogitar um limite mínimo de dois pit-stops para todos os pilotos. Assim, a pequeníssima chance da possibilidade de paradas perto do final da prova, que poderiam dar um lapso de emoção.
Fora isso, o “criterioso” processo de seleção para novas equipes foi um verdadeiro desastre. Primeiro, a USF1 abandonou o barco dias antes da primeira corrida. A Hispania, que era Campos antes de estrear, quase seguiu o mesmo caminho. Na pista, foi terrível, chegando a andar 11 segundos atrás do líder. A Virgin foi mais rápida, mas não tinha um carro nada confiável. Ia pra pista, fazia tempos parecidos com a Lotus, e quebrava.
A malaia Lotus, sim, se destacou. Ficou com os últimos lugares na corrida, mas, ao contrário de suas concorrentes estreantes, chegou ao fim da corrida com seus dois carros. As outras não terminaram com nenhum.
…Enquanto isso, em uma São Paulo de sábado ensolarado, mas com promessa de chuva, os carros da Indy foram para pista temporária pela primeira vez. E mais um desastre ia se desenhando.
Como qualquer pessoa que já dirigiu até uma bicicleta com rodinhas poderia imaginar só de olhar, a lisa pista do sambódromo não era adequada para receber carros. Pilotos reclamavam que tinham que manter o acelerador em 20%, para não perder a aderência. Bia Figueiredo e Ryan Briscoe, entre outros, foram vítimas da “pista de gelo” e foram parar no muro. Os competidores saíram dos treinos fazendo duras críticas ao trecho que parecia ensaboado, mesmo no seco.
Acontece que, diferente do que aconteceu no Barein, a situação por aqui era reversível. A prefeitura colocou máquinas para trabalhar durante toda a noite, raspando a pista para deixá-la em condições pelo menos razoáveis. Ponto para a organização, pois o resultado final foi que no início da manhã de domingo, já havia condições de se disputar classificação e corrida. Mesmo com chuva.
Porque a chuva resolveu acabar com o sol da manhã dominical, chegando de forma pesada. A largada chegou a ser adiada por poucos minutos, graças a uma nuvem passageira, mas ocorreu sem muita água caindo. E logo na primeira curva, o ex-F1 Takuma Sato causou um acidente, que gerou uma bandeira amarela, trocas de posições e mudanças de estratégia.
Dada a relargada, a prova seguia sem incidentes graves, mas com belas disputas. Principalmente na ponta, onde Dario Franchitti, Ryan Hunter-Reay, Alex Tagliani e Tony Kanaan seguiam próximos uns dos outros, disputando posições. E então veio a água.
Um temporal digno de São Paulo nos últimos meses. O traçado montado às margens do maior rio da cidade não tinha drenagem suficiente e poças se criaram, obrigando a direção da prova a suspendê-la por um tempo.
De volta à ação, Briscoe, Hunter-Reay e Will Power brigavam pela liderança, com os dois primeiros chegando a trocar de posição duas vezes em duas curvas. Perto do fim, no entanto, o líder acabou errando e encontrando o muro. Power superou o norte-americano para ficar com a primeira prova da nova Indy no Brasil. Vitor Meira completou o pódio.
Mas os destaques positivos ficaram com duas garotas estreantes. A primeira delas, Bia Figueiredo, que mesmo com fortes candidatas, terminou como a melhor estreante e a melhor mulher da prova. A segunda, a jovem suíça Simona de Silvestro, que chamou a atenção ao andar forte em todo o fim de semana e chegou a liderar algumas voltas da corrida. No fim, seu carro teve problemas e ela terminou três voltas atrás.
Claro que nem tudo foram flores. Muitos pontos da organização precisarão ser revistos para os próximos anos. Treinar quem vai dar a ordem para ligar seus motores, por exemplo, para que o presidente da maior empreendedora do evento não troque o tradicional “damas e cavalheiros” por um simples “pilotos”. Não deixar faltar água para os funcionários da equipe e energia elétrica para os profissionais de imprensa. Ou o mico que o vencedor pagou ao não saber o que fazer com uma caixinha de leite no pódio.
Os problemas, como se vê, ficaram restritos à parte da organização do evento, porque esportivamente, e é isso o que interessa para nós, a prova foi um espetáculo. Com disputas todo o tempo, seja na chuva ou na pista seca, seja atrás da liderança ou de um 12º lugar, que é o que se espera de uma corrida de carros.
Como podemos perceber, apesar dos problemas extra-pista, a Indy se mostrou muito mais atraente no último fim de semana do que a badalada Fórmula 1. Falta saber se o público brasileiro aprendeu a gostar destas disputas e passará a acompanhar também o resto de sua temporada, ou se só vai se lembrar dela em março do ano que vem.