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Livro conta a história de sucesso da Freios Varga

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“Memória da Varga” resgata a trajetória dessa empresa que se tornou referência internacional no setor automotivo

Texto: Denise Fortes

Ainda no início da indústria automobilística no Brasil, o jovem empresário Estevam Júlio Varga decidiu apostar todas as suas fichas nesse mercado que parecia promissor. A intenção era produzir peças para automóveis. Mas qual peça exatamente? Como a família Varga tinha uma fundição – em Limeira, no interior paulista – onde produzia soldas elétricas, o produto teria que ser de ferro fundido. Porém, algumas peças do carro eram muito complexas; outras já tinham fabricantes no país. Depois de muita investigação, veio a resposta: cilindro de freio.
Assim começa a história da Freios Varga – que, na verdade, só recebeu esse nome muitos anos depois – contada no livro Memória da Varga, lançado em São Paulo. Escrito pelo historiador José Eduardo Heflinger Jr. e pelo próprio Estevam Júlio Varga, hoje com 82 anos, o livro mostra a saga de uma empresa que passou por várias mudanças (algumas radicais), superou desafios, enfrentou a concorrência de multinacionais do setor, mas conseguiu crescer e até estender seus negócios para o exterior, graças, principalmente, à adoção de uma cultura de qualidade – e, sem dúvida, à perseverança de seus donos.
“O primeiro faturamento que fizemos foi com a produção de diversos modelos de cilindro de roda, que eram simultaneamente lançados, porque não conseguiríamos sobreviver produzindo um único. Isso ocorreu em 1955”, conta Estevam Júlio Varga no livro. “Estávamos fazendo um produto com sacrifício, conseguindo entregá-lo com qualidade e garantia. É lógico que dependíamos de um fabricante de borracha, outro de pistões, além de outras coisas mais.”
Essa dependência acabou levando a empresa a um alto grau de verticalização. No seu auge, a Varga chegou a ter cerca de 35 departamentos e 4.500 funcionários diretos – além de uma estrutura que incluía mais de 20 ônibus para transportar essas pessoas.

Sociedade com os ingleses

No final da década de 60, quando já fornecia peças para várias montadoras instaladas no país – entre elas, a Willys (fabricante do Aero-Willys), a GM, a Mercedes-Benz e a Volkswagen –, a Varga enfrentou uma grande ameaça: a vinda da alemã Alfred Teves para o Brasil. “Nós estávamos sendo ameaçados, porque já tínhamos um mercado de cilindro de roda e de cilindro-mestre, que a Alfred Teves provavelmente ganharia com a modernização do ramo de freios”, lembra Júlio, em um trecho do livro.
Para enfrentar o potencial concorrente, a Varga foi à Inglaterra buscar parceria com a Girling, subsidiária do grupo Lucas que fornecia freios para a maioria dos carros britânicos. O acordo foi fechado e a Lucas Girling entrou com tecnologia e know how internacional, além de recursos financeiros. Em troca, em 1971, passou a deter 20% do capital da Varga. Três anos depois, a fábrica de Limeira havia triplicado sua produção e já supria 35% da demanda de freios do país.
Em 1997, a Lucas assumiu o controle total da Freios Varga – que hoje está nas mãos do grupo norte-americano TRW Automotive (que incorporou a Lucas). Antes disso, a empresa entrou de cabeça nas exportações – chegou até a montar uma fábrica nos Estados Unidos, para atender montadoras como a Ford e a Chrysler – e investiu na modernização da gestão. Adotou conceitos como just in time e Qualidade Total, passou a fazer planejamento estratégico e partiu para a terceirização.

Continuidade da marca

Com isso, o número de funcionários diminuiu para 2 mil, o faturamento quadruplicou e a produtividade cresceu oito vezes. Ao mesmo tempo, a terceirização deu origem a um grande número de empresas em Limeira, criadas pelos funcionários dispensados – que viraram fornecedores da Varga. Afinal, o objetivo era manter a qualidade e a cultura Varga.
Essa cultura persiste até hoje – assim como a marca Varga, mantida pela TRW. O grupo norte-americano também escolheu nos quadros da Freios Varga seu atual presidente na América do Sul: Moisés Bucci, que começou na empresa em 1974, quando tinha 14 anos. O garoto chegou a dizer a Júlio que queria ser o presidente da Freios Varga. “Respondi que isso só dependia dele”, conta o empresário.
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Serviço

Título: Memória da Varga
Autores: Estevam Júlio Varga e José Eduardo Heflinger Jr.
Número de páginas: 287
Preço: R$ 50,00
Unigráfica Editora