Sobrenome famoso, piloto ainda comum
Mesmo sobrinho de um tricampeão, Bruno Senna tem que mostrar seu próprio talento
Edmur Hashitani
O piloto Bruno Senna foi apresentado oficialmente, esta semana, pela equipe Campos-Meta que, assim como o brasileiro, estreará na Fórmula 1 na próxima temporada. Muita expectativa está sendo colocada em cima desta estreia e de sua carreira como um todo por imprensa e torcia, não apenas brasileiras.
Mas, conforme já disse isso aqui ano passado, é preciso muita calma. Bruno pode carregar um sobrenome de peso, de um tricampeão do mundo, mas isso pode não significar nada nas pistas. Ao contrário. A pressão sendo muito grande, pode até prejudicar seu desempenho.
Fugindo um pouco do caso específico de Bruno e recorrendo à história, veremos que foram muitos os casos em que parentes de campões não se deram tão bem assim no automobilismo.
Alguns bons exemplos são casos como de Juan Manuel Fangio, pentacampeão na F1, cujo sobrinho Juan Fangio II não conseguiu emplacar nos monopostos (apesar de ter feito uma bela carreira com protótipos). O ítalo-americano Mario Andretti, é outro campeão cujo filho, Michael, não vingou no mundial, mas foi campeão da Indy. Já o neto, Mario, ainda não mostrou nada de excepcional na Indy. Apesar de ter herdado o talento de se meter em confusões do pai.
No Brasil, o exemplo de Piquet é o mais importante. Nelson foi tricampeão, mas Nelsinho chegou à F1, mas não obteve bons resultados ou atuações. Depois, ainda veio o episódio de Cingapura em 2008, que o causou desconfiança aos olhos de qualquer dono de equipe. Agora luta para retornar à Fórmula 1. Fato é que, exceto Graham Hill e Damon Hill, não há casos de dois campeões mundiais em uma mesma família.
Claro que esta não é uma regra. Ninguém diz “você é filho, sobrinho de campeão, então não pode ter talento”. Não é porque a maioria dos outros não deram certo, que Bruno também não dará. No entanto, há de se saber que o contrário também é válido. Não é porque é um Senna, que será campeão.
E ainda que a história não seja favorável, ter um sobrenome campeão tem suas vantagens. Em um esporte em que o dinheiro cada vez fala mais alto, ser parente de um piloto bem sucedido pode trazer patrocínios de empresas que, de certa forma, querem ter seu nome ligado às glórias do passado.
Apesar de não ter conquistado campeonatos, Bruno mostrou, sim, que é um bom piloto. Venceu corridas, foi vice na GP2, fez bons testes com a finada Honda. Nada excepcional, mas são bons resultados. Há de se levar em conta, também, que seu desenvolvimento como piloto foi diferente da maioria. Bruno não passou a infância correndo de kart. Só convenceu a família de que seria piloto no fim da adolescência.
Além disso, ele entra na F1 com uma equipe estreante, que certamente terá dificuldades em seu início. Cobrar resultados de um piloto que chega à categoria máxima do esporte a motor seria de uma crueldade sem tamanho. Apenas colocaria mais pressão em um jovem que tem que provar a si mesmo que tem talento.
Pelas entrevistas que dá, Bruno mostra que tem plena consciência de seu papel. Afirmou por diversas vezes que quer ser o Bruno, e não o sobrinho do Ayrton. Pelo menos fora das pistas, já demonstra preparo para enfrentar o que virá pela frente. Falta saber o que terá a mostrar no cockpit de um Fórmula 1. E lembre-se, antes de apedrejá-lo, 2010 é apenas o início de sua carreira, com condições bem adversas.
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